Nem a Adília Lopes é a Adília Lopes 1 de xul. de 2021
Nem a Adília Lopes é a Adília Lopes
Conferência
O primeiro livro de Adília Lopes, Um Jogo Bastante Perigoso, abre com uma epígrafe de Menina e Moça de Bernardim Ribeiro: “conto de mulheres não pode leixar de ser triste”. A convocação deste texto tutelar da literatura portuguesa situa os leitores num espaço feminino e autobiográfico, porém a importância da citação de Menina e Moça vai mais além, pois, com este livro, surge pela primeira vez, na Península Ibérica, uma obra ficcional narrada por uma personagem feminina. Este dispositivo retórico que permitiu a Bernardim Ribeiro afastar a suspeita de biografismo, não serviu a Adília Lopes, cuja obra vive sob suspeita (como se de um pecado se tratasse) do autobiografismo. As vivências de Maria José são metabolizadas por Adília nos seus textos, o que
impede resgates hermenêuticos lineares e transições simplistas do texto literário para a realidade imediata. Entendamos, então, o pseudónimo como um dispositivo de suspensão do eu biográfico, facilitador da distância entre a biografia e a ficção e que sinaliza a fronteira entre o nome do autor e a função autor.
Fonte: https://adilialopes.webs.uvigo.gal