Fazer pausas 2 de xul. de 2021

Segundo Fernando Pessoa, chama-se poesia ao género de discurso disposto em linhas de palavras cuja pausa própria é marcada pela mudança de linha. A este respeito escreve Pessoa que “A pausa de fim de verso é independente do sentido, e é tão nítida como se ali houvesse pontuação” [Pessoa 1966: 77]. As valorizações distintas a respeito da decisão sobre a delimitação do verso, i.e., sobre a pausa de linha, podem ser ilustradas por um episódio do tour que Oscar Wilde fez pelos Estados Unidos. Nessa ocasião, em 1882, Wilde teve a oportunidade de se encontrar com Walt Whitman, a quem perguntou pelas suas teorias acerca da composição poética, tendo em mente procurar saber mais sobre a doutrina prosódica do escritor americano. Whitman ter-lhe-á respondido de maneira desassombrada: “Well, you know, I was at one time of my life a compositor and when a compositor gets to the end of his stick he stops short and goes ahead on the next line” (Ellmann 1988: 161). Esta comunicação visa testar a ideia de que sensivelmente até Dobra, a compilação de Adília Lopes publicada em 2009, a sua escrita é decisivamente marcada por pausas como se ali houvesse pontuação e que a partir desse ponto, ou mais exactamente depois de Apanhar ar (o livrinho-charneira vindo a lume no ano seguinte), passa a prevalecer o que Whitman
responde a Wilde.

Fonte: https://adilialopes.webs.uvigo.gal