Leitura, memória, habitação: Adília Lopes lendo Anita 30 de xuño de 2021
Leitura, memória, habitação: Adília Lopes lendo Anita
Conferência
Esta comunicação pretende ler e comentar o poema em prosa no último livro de Adília Lopes, Dias e Dias, iniciado pelas palavras “O meu sonho de criança foi ser Anita” (2020, p. 44): uma reflexão de Adília sobre as casas, a infância, a leitura – e uma homenagem ao livro de literatura infanto- juvenil Anita Dona de Casa, escrito e ilustrado pelos autores belgas Gilbert Delahaye e Marcel Marlier (no original, Martine à la Maison, publicado em 1963). Ler este poema em prosa de Dias e Dias implica portanto que “falemos de casas” (Herberto Helder), do lugar ameaçado em que a identidade se define pela casa onde se vive, do cruzamento entre a subjectividade privada e a questão política da perda da morada e de si própria. É contra essa ameaça, emergente em vários livros de Adília Lopes, que a leitura de Anita Dona de Casa parece constituir um refúgio, ao mesmo
tempo inesperado e comovente. Este ensaio pretende então, por um lado, apontar a coerência que subjaz à evocação de um paraíso infantil em tempos de ameaça económica; mas, por outro, assinalar a tensão entre esse modelo eventualmente conservador e o trabalho experimental, desafiante, por vezes iconoclasta, da poesia de Adília Lopes.
Fonte: https://adilialopes.webs.uvigo.gal